sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Incapacitação de tripulação de voo - Parte 1


Incidents in Air Transport
Número 2 – fevereiro de 2011
Incapacitação de tripulação de voo

Sumário

ü  Doenças Gastrointestinais
ü  Doenças Cardíacas
ü  Hipoglicemia
Observação: será publicado em partes. A primeira é Doenças Gastrointestinais.

A abordagem estatística à questão da incapacitação do piloto de transporte aéreo parece demonstrar a ausência de qualquer risco significativo para a segurança aérea. Entretanto, as investigações dos casos de incapacitação de piloto revelam a existência de fatores que poderiam contribuir para acidentes, e tais ocorrências são tratadas como incidentes graves.

“Incapacitação de piloto” refere-se ao efeito na atividade do piloto da deterioração de qualquer estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. O exame clínico é especificamente desenhado para prevenir o risco de incapacitação ocorrer em voo ao selecionar candidatos cujas os problemas de saúde, se houver, não apresentem obstáculos aparentes ao voo. Entretanto, a condição médica de um piloto evolui com o tempo devido à idade, ao estilo de vida, ao surgimento de doenças crônicas ou de enfermidade temporária etc. O risco tem que ser avaliado de forma dinâmica pelos próprios pilotos; eles devem estar alertas a qualquer anomalia que possa impactar, ainda que por pouco tempo, suas habilidades de voar uma aeronave.

Um dos corolários de trabalhar como tripulante é que ele limita o impacto na condução do voo se um dos pilotos fica incapacitado de repente. Entretanto, esse benefício pressupõe um certo número de condições, em particular que a condição clínica dos pilotos não seja afetada ao mesmo tempo, como por exemplo no caso de intoxicação alimentar, uma doença sazonal ou a deterioração no ambiente do cockpit (poluição, hipóxia etc.).

Os incidentes apresentados nesta edição da revista Incidents in Air Transport (algo como Incidentes no Transporte Aéreo) mostram que os riscos inerentes às condições fisiológicas podem, às vezes, ser subestimados uma vez obtido o certificado médico (nosso CMA). A decisão de não voar, devido ao que parecem ser pequenos problemas de saúde, é bem difícil de tomar, contudo tais problemas podem rapidamente se tornar incapacitantes e atrapalhar a condução do voo.

Doenças Gastrointestinais

Primeiro caso
Histórico do Voo
Em 13 de fevereiro, durante uma escala, o copiloto caiu doente com gastroenterite, levando à desidratação. Tomou remédio e bebeu bastante água tão logo que pôde. No dia seguinte, algumas horas antes do traslado para o aeroporto, percebeu uma melhora gradual nos sintomas. Sentiu-se capaz de assumir o voo transoceânico e embarcou no ônibus que levava a tripulação para a aeronave. Durante a transferência, entretanto, teve um outro problema e finalmente decidiu não assumir o voo. O check-in dos 357 passageiros foi interrompido e o voo cancelado.

Segundo caso
Histórico do Voo
Durante a fase de cruzeiro, em um voo de Dakar para Paris, em 21 de fevereiro, o comandante teve dores abdominais violentas e náusea. Um médico, atendendo à solicitação da cabine, aplicou algumas injeções que aliviaram os sintomas momentaneamente. O comandante retornou aos controles por mais ou menos uma hora, após o que os sintomas retornaram. Foi tratado da mesma maneira e descansou até a descida. Então permaneceu sob vigilância do médico. O restante do voo prosseguiu normalmente.

Informações adicionais.
A investigação revelou que o comandante tinha comido ovos e produtos preparados à base de carne por volta das 11h, que começou a sentir-se mal em torno das 17h e que sua condição havia piorado por volta das 21h, mais ou menos uma hora antes da decolagem.
O comandante disse que tinha consultado um médico no solo e havia obtido aval para realizar o voo. Acrescentou que antes do embarque, tinha verificado que havia um médico a bordo assim poderia buscar ajuda médica se a necessidade surgisse.

Lições aprendidas.
Quais são os critérios que entram na decisão de voar ou não? Qual o peso atribuído à condição clínica do piloto? Qual consideração deve ser dada às pressões comerciais, notadamente durante escalas? Não há respostas claras para estas perguntas. O piloto afetado é a única pessoa que pode tomar a decisão — uma decisão delicada na falta de tripulação reserva — não assumir o voo. Não poderia beneficiar-se de uma opinião externa de um médico da aviação empregado pela aérea, por exemplo através de um OCC (Centro de Controle Operacional), para ajudá-lo a decidir?
A situação é suficientemente rara para as operações continuarem substancialmente inalteradas. Assim como é normal executar uma arremetida na ocorrência de uma aproximação desestabilizada, o cancelamento de um voo também deveria ser visto como uma boa solução.

Terceiro caso
Histórico do Voo
Durante um voo de Paris, Charles-de-Gaulle para Ivalo (Finlândia), em 15 de dezembro, o comandante em treinamento era “piloto em instrução e estava sentado na direita, executando um Cheque em voo no piloto em comando (também comandante) sentado na esquerda.
No final do voo, que durou mais que três horas, a tripulação foi autorizada a executar a aproximação NDB 04. Já era noite. A descida foi atrasada. A aeronave passou o FAF (Fixo de Aproximação Final) em alta velocidade e não totalmente configurada. Aproximou acima da rampa de planeio e ligeiramente à direita do localizador.
Figura 1 - Trajetória do voo
A 1.700 pés, para abandonar uma aproximação não estabilizada, o instrutor solicitou uma arremetida para ingressar na perna do vento da pista 22. Entretanto, para ganhar tempo, mudou sua estratégia e solicitou continuar a curva à esquerda para retornar ao curso do localizador. Informou ao ATC, que orientou que subisse imediatamente para 2.800 pés para evitar obstáculo. Durante esta manobra, o piloto em comando passou do rumo da aproximação e saiu da área de proteção. A tripulação completou a aproximação visualmente.

Trajetória do voo
Informações adicionais.

Quando iniciou o voo, o comandante sob supervisão estava sofrendo dos estágios iniciais da gastroenterite. Devido à natureza do voo de instrução, e da dificuldade de reprogramar tais voos, preferiu não informar ao instrutor. Este último não percebeu a sutil incapacitação1 do "estagiário".

Lições aprendidas.

O piloto sob supervisão analisou a relação risco/benefício sozinho. Era difícil para ele declarar sua incapacitação, porque o contexto representava que era importante para ele assumir o voo e não revelar nenhuma fraqueza.
Também foi difícil para o instrutor perceber a incapacitação do piloto, porque além de sutil, ele estava ali para avaliar as habilidades e a capacidade de tomar decisões do piloto estagiário.

Quarto caso
Histórico do Voo

Durante a fase de cruzeiro de um voo em 31 de dezembro, o copiloto sentiu dores abdominais e deixou o cockpit para ir ao toalete. O comandante ouviu um barulho abafado e, olhando para o monitor CCTV, viu o copiloto caído no corredor. Um comissário viu o copiloto cair e bater a cabeça na borda da divisória, sem consequências graves. Com a ajuda dele, o copiloto foi ao toalete e retornou para o seu assento.
O procedimento para incapacitação de membro da tripulação foi aplicado até que a aeronave parasse no pátio: o assento do copiloto foi afastado, o sinto de segurança foi travado, e um membro da tripulação da cabine de passageiros permaneceu no cockpit.
Informações adicionais.

Antes de assumir o voo, o copiloto não tinha percebido nenhum sintoma em particular, apesar de todos estarem mais atentos depois que o comandante com quem ele tinha voado a perna de saída foi substituído para este voo, após sentir-se mal devido à fadiga. A investigação confirmou que a fadiga do comandante original tinha persistido por um dia, mas sem nenhum outro sintoma. Pode ser que o copiloto tenha pego algo do comandante e que, talvez devido à altitude, os sintomas realmente se desenvolveram no caso dele.

Conclusão
O comandante original tinha decidido não voar. Não tivesse ele tomado aquela decisão, os sintomas poderiam ter piorado durante o voo, assim como o copiloto estava começando a sentir dor abdominal. Ambos os pilotos teriam ficado incapacitados, colocando a segurança do voo em risco.

Lições aprendidas.
Gastroenterite é vista quase como uma causa rotineira de incapacidade em voo. Quando os sintomas começam antes de assumir o voo, o piloto tem que avaliar a relação risco/benefício antes de decolar. Critérios de decisão tais como: pressão comercial ou um voo supervisionado, como nos exemplos escolhidos, podem incitar o piloto a assumir o voo a despeito de estar ciente dos sintomas. Mesmo se a condição seja clinicamente benigna, os sintomas que começam antes do voo geralmente pioram durante ele, devido à altitude. A tripulação deve ter em mente que, em voo, o risco de enfermidade devido à desidratação ou tônus vagal pode levar à falta de responsividade durante uma fase crítica do voo, e até mesmo - como no quarto caso - a uma perda repentina de consciência. Gastroenterite pode ocorrer devido à intoxicação alimentar, especialmente durante as escalas. Esta forma de infecção é bem conhecida das tripulações, que ajustam seus hábitos alimentares adequadamente. O caráter sazonal das epidemias de gastroenterite, entretanto, é geralmente menos conhecida. Sua sazonalidade (veja o gráfico) pode levar tripulações a ficarem atentas, durante o inverno na França, a doenças imprecisas que podem ser os primeiros sinais de gastroenterite.
Lavar as mãos de forma correta ainda é a melhor maneira de prevenir a contaminação entre as pessoas.

Percentagem Nacional de incidência (casos por 100 mil habitantes) de diarreia aguda com início epidêmico, invernos de 2007-2008, 2008-2009 e 2009-2010, dados da rede Sentinelles (algo como Sentinelas), 02 de maio de 2010.


1 Uma incapacitação parcial e insidiosa que pode passar despercebida por quem sofre e por aqueles ao redor dele ou dela (da revista Médicine aérospatiale, segunda edição, 1999)

Intoxicação alimentar

Acesse o original aqui.
Categorias: Questões Operacionais / Aeromédicas

Conteúdos:


2 Causas da Intoxicação Alimentar
2.1 Bactérias
2.3 Micotoxinas (veja o significado aqui)
2.4 Vírus
2.5 Parasitas
2.6 Toxinas Naturais
3 Período de Incubação
4 Ameaças
5 efeitos
6 Cenários
7 Defesas
8 Soluções
9 Tratamento da intoxicação alimentar
10 Acidentes & Incidentes
11 Artigos relacionados
12 Leitura adicional

Definição

Intoxicação alimentar é toda doença resultante do consumo de alimento contaminado. Ela pode afetar o desempenho de um membro da tripulação no exercício das suas funções e, em casos graves, a intoxicação pode resultar na incapacitação. A intoxicação alimentar acontece como consequência do manuseio, preparação e armazenamento impróprios do alimento.
A incapacitação de tripulante devido à alergia ao alimento é abordada em um artigo separado



Bactérias

As bactérias são uma causa comum da intoxicação alimentar. Os patógenos bacterianos transmitidos por alimentos mais comuns e que respondem pela maioria das infecções prejudiciais, são:

- Campylobacter,
- Salmonella, e
- Escherichia coli.
Bactérias da Salmonella. Fonte: Wikipedia
As toxinas das infecções bacterianas têm efeitos tardios porque elas precisam de tempo para se multiplicarem e os sintomas geralmente não aparecem até 12 - 72 horas ou mais após ter comido o alimento contaminado.

Exotoxinas

Além da doença causada pela infecção bacteriana direta, algumas doenças transmitidas pelos alimentos são causadas pelas exotoxinas que são expelidas enquanto a bactéria cresce. Exotoxinas podem produzir doença mesmo quando os micróbios que as produziram foram mortos. Os sintomas aparecem normalmente após 24 horas dependendo da quantidade de toxina ingerida. As Toxinas geralmente encontradas incluem:

Botulinum de Clostridium - botulismo raro, mas doença potencialmente mortal que ocorre quando a bactéria anaeróbica botulinum de clostridium cresce em alimentos pouco ácidos inadequadamente enlatados e produz o botulin, uma poderosa toxina paralitica.

O Staphylococcus aureus produz uma toxina que causa vômito intenso.

Micotoxinas

O termo 'micotoxina' é geralmente reservado para os produtos químicos tóxicos produzidos por fungos (mofo). Os efeitos na saúde incluem a morte, doenças identificáveis ou problemas de saúde, sistemas imunológicos enfraquecidos sem especificidade a uma toxina, e como alergênicos ou irritantes. As Micotoxinas podem aparecer na cadeia alimentar em consequência de infecção fungosa de culturas, tanto sendo ingeridas diretamente por seres humanos ou sendo usadas como alimentação de rebanho. As Micotoxinas resistem extremamente à decomposição ou a serem quebradas na digestão, então elas permanecem na cadeia alimentar na carne e nos produtos laticínios. A ingestão de cogumelos incorretamente identificados que contêm micotoxinas pode resultar em alucinações.

Vírus

As Infecções Virais compõem talvez 1/3 dos casos de intoxicação alimentar nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, mais de 50% dos casos são virais e os norovírus são as doenças de origem alimentar mais comuns causando 57% dos surtos em 2004. A infecção viral transmitida por alimento é geralmente de período intermediário de incubação (1-3 dias), causando doenças que são autolimitadas a indivíduos sob outros aspectos saudáveis, e são similares às formas bacterianas descritas acima.

Parasitas

Os Parasitas podem estar presentes no alimento ou na água. Variam de tamanho, indo dos organismos unicelulares minúsculos aos vermes (por exemplo a solitária) visíveis a olho nu. As doenças que podem causar vão desde um leve desconforto à doença debilitadora e possivelmente à morte.

Toxinas Naturais

Diversos alimentos podem naturalmente conter toxinas, muitas das quais não são produzidas por bactérias. Os exemplos incluem feijão comum (as toxinas são destruídas cozinhando) e marisco, particularmente moluscos bivalves (filtradores) como mexilhões, ostras e amêijoas (conhecidos como marisco-pedra ou berbigão). Os sintomas podem aparecer de 10 minutos a 30 minutos depois da ingestão e incluem náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, boca seca, discurso confuso ou fala mal articulada e a perda da coordenação. Em casos mais graves, os sintomas neurológicos podem levar muitas horas ou até três dias para aparecerem. Pessoas contaminadas com doses elevadas da toxina, ou aqueles nos grupos de risco elevado tais como os mais velhos e pessoas com doenças pré-existentes podem morrer.

Período de Incubação

O longo período de incubação de muitas infecções transmitidas por alimentos tende a levar os doentes a atribuírem seus sintomas à gastroenterite. Se os sintomas ocorrerem dentro de 1-6 horas após ter ingerido o alimento, isso sugere que é causado por uma toxina bacteriana ou natural, ou por um produto químico, e não por bactérias vivas. Se os sintomas ocorrerem muito rapidamente após ter ingerido o alimento, isto é, dentro de minutos, então a causa pode ser uma alergia e não intoxicação alimentar.



Intoxicação alimentar em consequência de comer alimento ou água contaminada antes de começar a trabalhar. Intoxicação alimentar em consequência de ingerir alimento ou água contaminada durante o voo.



Os efeitos da intoxicação alimentar podem incluir:

Náusea e vômito;
Fortes dores abdominais;
Diarreia;
Dor de cabeça;
Febre.

Casos graves podem levar a:

Choque;
Alucinação;
Desmaio/Perda da consciência.



- A tripulação faz as refeições junto durante seu período de descanso. Diversos membros da tripulação experimentam problemas de estômago antes de se apresentarem para o voo. O comandante procura auxílio médico de um doutor qualificado em medicina aeroespacial e, após conversa com a companhia, o voo é cancelado.

- Durante o voo, o comandante não se sente bem e é forçado a sair da cabine de comando por prolongados períodos. O copiloto começa a experimentar sintomas similares e tem dificuldade em executar ações rotineiras. A tripulação inicia um desvio para o aeroporto adequado mais próximo.



Saúde boa - o corpo humano encontra as bactérias e toxinas potencialmente prejudiciais de forma contínua, e os sistemas digestivo e imunológico do corpo geralmente controlam-nas sem que haja quaisquer efeitos adversos. Entretanto, as pessoas com problemas de saúde preexistentes, e aqueles sistemas imunológicos fracos são mais vulneráveis.

Higiene alimentar - A observação de princípios da segurança do alimento reduz a probabilidade da intoxicação:

1 - Previna a contaminação do alimento por patógenos que se espalham a partir das pessoas, dos animais de estimação e de pestes;
2 - Separe alimentos crus e cozinhados para impedir que contaminem os alimentos cozinhados;
3 - Cozinhe alimentos durante tempo apropriado e na temperatura certa para matar os patógenos;
4 - Armazene o alimento na temperatura adequada;
5 - Use água limpa para cozinhar.

Higiene pessoal - Lave sempre as mãos antes de segurar o alimento.



Tripulações sofrem frequentemente de intoxicação alimentar ao comer fora quando não pernoitam na base:
1 - Se estiver em dúvida sobre a higiene de uma lanchonete ou de um restaurante, não coma.
2 - Em um local onde a água não seja potável, evite saladas, frutas e gelo.
3 - Coma sempre alimentos cozidos recentemente.
4 - Assegure-se de que toda a carne e o peixe esteja cozinhado completamente.
5 - Evite mariscos.
6 - Os pilotos devem comer refeições diferentes.

No voo:

- A tripulação de voo deve comer pratos diferentes quando as refeições de bordo forem servidas;
- Os pilotos na cabine devem comer em horas diferentes - um intervalo de pelo menos de 30 minutos é aconselhável.



1 - Ajude a vítima a deitar-se e descansar em uma posição confortável;
2 - Incentive a vítima a beber muito líquido;
3 - Forneça sacos de enjoo e lenços de papel;
4 - Mantenha a vítima aquecida;
5 - Incentive a vítima a não comer nada;
6 - Ofereça a vítima um remédio para diarreia ou sachês de reidratação (Dioralyte);
7 - Se a vítima entrar em choque devido à desidratação então trate o choque;
8 - Se a vítima ficar inconsciente, siga as orientações para tratamento de vítima inconsciente - procure conselho médico e considere pousar no aeródromo apropriado mais próximo para conseguir auxílio médico.



Eventos na base de dados da SKYbrary listam a Intoxicação Alimentar como fator causal:

B763, Atlanta Geórgia, EUA 2009 (em 19 de outubro de 2009, Boeing 767-300 sendo operado pela Delta Airlines em um voo de passageiros programado do Rio de Janeiro a Atlanta pousou inadvertidamente no destino, em noite de condições meteorológicas visuais na taxiway 'M' paralela à pista 27R (27 da direita) que era a pista de pouso pretendida e autorizada pelo Controle de Tráfego Aéreo. Nenhum dos 194 ocupantes foram feridos e não houve nenhum dano ao avião e nem conflito com outros tráfegos ou veículos. O terceiro membro escalado da tripulação tinha ficado incapacitado em rota e, em consequência, nenhum dos outros pilotos tinham podido descansar em voo.)



Incapacidade de tripulante
Alergia alimentar
Perigos Biológicos - Orientação para a Tripulação de Cabine



- CAP 757: Saúde Ocupacional e Segurança a bordo de Aeronaves - Orientações sobre Boa Prática, 2012.
Categorias: Assuntos Operacionais / Aeromédicos.

Incapacitação de tripulante de voo - Parte 2


Incidents in Air Transport

Número 2 – fevereiro de 2011
Incapacitação de tripulação de voo

Hipoglicemia

Hipoglicemia é revelada pela aparição de sintomas de vários tipos, refletindo uma falta de glicose no cérebro. Os sintomas geralmente aparecem em níveis de glicose no sangue inferiores a 0,50 g/l. Na ausência de uma disfunção do metabolismo da glicose ou de esforço físico extenuante, os níveis de açúcar no sangue diminuem gradualmente.
Pode ser causada pela deficiente reposição devido à pouca ingestão de comida, ou por uma patologia orgânica mais grave.
Os sintomas da hipoglicemia assumem muitas formas. A perda da consciência geralmente reflete uma deficiência significante de glicose. Ela pode ser precedida de enfermidades cognitivas insidiosas, induzindo a um estado sútil de incapacitação sem qualquer consequência aparente para o voo. A hipoglicemia também pode se manifestar como agitação, até mesmo agressão, tornando o sujeito perigoso para outras pessoas.

Primeiro caso
Histórico do Voo
No final da noite, a tripulação tinha realizado um voo de reposicionamento que durou 35 minutos.
Antes do próximo voo — a primeira perna comercial da viagem de ida e volta — o tempo da escala foi prolongado pelo atraso no embarque de um passageiro.
No final da manhã, um comissário de voo levou as bandejas das refeições para a tripulação, mas o comandante desmaiou quando começou a comer.
Um médico, atendendo a um pedido da cabine, receou ser um problema cardíaco.
O copiloto declarou emergência para o ATC e desviou a aeronave.

Informações adicionais
Os exames médicos realizados no comandante no hospital revelaram hipoglicemia. O voo de posicionamento no final da noite e a falta de ingestão de alimento para atender às necessidades do corpo até que o café da manhã reforçado fosse servido indicaram que o comandante estava utilizando suas reservas.

Lições aprendidas
Hipoglicemia é frequentemente suscitada quando as pessoas se sentem mal repentinamente, mas é raramente confirmada porque os mecanismos de regulagem do organismo geralmente compensam a queda temporária.
A pergunta aqui é por que a deficiência de glicose persistiu por tanto tempo a ponto de causar uma indisposição duradoura que ainda era observável horas depois, durante os exames médicos no hospital?

Segundo caso
História do voo
Enquanto em cruzeiro, o comandante, piloto em instrução, reclamou de dores abdominais. Começou a ignorar de forma intermitente as comunicações do rádio e as perguntas do copiloto. Seu discurso se tornou mais e mais incoerente. O copiloto decidiu desviar a aeronave.
Durante a aproximação final, o comandante ficou mais agitado e começou a agir agressivamente com o copiloto. A comissária teve que imobilizá-lo no assento e supervisioná-lo até que a aeronave pousasse.

Informações adicionais
Os testes realizados no hospital revelaram um nível de glicose de 0,37 g/l, correspondendo à hipoglicemia grave. O comandante foi declarado apto para dispensa dos seus serviços devido ao diabetes, que foi tratado com o uso de medicamentos de via oral para a diminuição da glicemia da classe dos binaguidas por 15 anos. Uma crise similar havia acontecido um ano antes. O comandante recebeu insulina imediatamente após o incidente.


Lições aprendidas
Pilotos diabéticos devem esforçar-se para manter a ingestão de glicose regular e suficiente a despeito dos às vezes complicados ritmos de trabalho nos voos de curta e média duração. Uma queda excessiva da glicemia devido à ação de medicação é difícil para o corpo compensar sem a ingestão de comida rica em açúcar. Isso expõe o piloto ao risco da incapacitação, tornando-o incapaz, possivelmente de forma sútil, de realizar as tarefas de pilotagem. Os agentes da hipoglicemia sulfonilureia e a insulina aumentam esse risco. Elas são proibidas para o combate do diabetes mellitus na tripulação de voo. Devido ao período prolongado de tratamento do diabetes pelo qual o piloto passou, seu tratamento talvez tenha sido ajustado com o tempo, talvez envolvendo a prescrição de medicamentos proibidos tais como aqueles mencionados acima. Neste contexto, o comandante pode ter deixado de reportar a mudança no tratamento, especialmente para não perder sua certificação.

Lições comuns
Refeições irregulares podem ter impacto significativo no equilíbrio da glicose no sangue, especialmente em diabéticos, que podem não estar cientes da sua condição. No primeiro caso, os efeitos do jejum podem ter sido acentuados pela mudança do ciclo trabalho-descanso para a parte da manhã. No segundo, a intensidade e a duração da hipoglicemia podem ser explicadas pela ingestão regular de medicações sem a adequada ingestão de comida. Em todo caso, a possibilidade de uma mudança não reportada no tratamento deve ser considerada. A perda de consciência descrita no primeiro caso é o mais sério sinal conhecido de hipoglicemia. Agitação agressiva, embora menos conhecida, pode ser até mesmo mais perigosa.


Incapacitação de tripulação de voo - Parte 1

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